23 fevereiro 2008

Momento literário II

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia



18 fevereiro 2008

Momento literário I


Gozo e dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura

De que me enche o teu amor?
Não. Ai não; falta-me a vida;

Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza

Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.

Almeida Garrett

14 fevereiro 2008

Dia de São Valentim!

Já várias vezes me perguntei acerca da origem da tradição do Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados. Claro que, seja qual for a origem, nada deve ter a ver com o comércio e marketing desmedido que hoje ronda a data. Somos todos diferentes (e ainda bem) mas pessoalmente acho muito mais bonito e romântico algo que se faz com sentimento do que comprar o peluche maior (muito caro), ou o maior ramo de flores (consequentemente mais caro), ou a maior moldura em forma de coração com a respectiva foto lá inserida, ou... Ou tanta coisa! Eu cá prefiro uma carta escrita com umas frases bonitas e sentimentais (e que sejam verdadeiras, claro), um postal feito pela pessoa que a gente gosta, uns lembretes colocados em locais estratégicos, uma flor do campo que se apanhou para a pessoa em que a gente pensa, uma tarde em perfeito relax à beira-mar e ver o pôr-do-sol, enfim... são estas as coisas que prefiro! É certo que tudo isto se pode fazer o ano inteiro, mas comprar peluches, molduras, almofadas em forma de coração e grandes ramos de flores também. De qualquer maneira, continuo a preferir as pequenas coisas com grande significado. Faz-me uma certa confusão ver os adolescentes, com o(a) primeiro(a) namorado(a) e "exigirem" aos pais uns, 20, 30 ou 40 euros para comprar a prenda do Dia de São Valentim. Realmente sou doutra geração e devo estar a ficar cota ou outra coisa parecida, mas não compreendo a prontidão com que estes pais dão o tal dinheiro "exigido". Afinal hoje em dia romantismo é dar uma prenda (cara) e nesse aspecto não sou moderna, sou muito antiquada... E gosto de o ser...

Origem deste dia:


"Diz-se que o imperador Cláudio pretendia reunir um grande exército para expandir o império romano.
Para isso, queria que os homens se alistassem como voluntários, mas a verdade é que eles estavam fartos de guerras e tinham de pensar nas famílias que deixavam para trás...
Se eles morressem em combate, quem é que as sustentaria?
Cláudio ficou furioso e considerou isto uma traição. Então teve uma ideia: se os homens não fossem casados, nada os impediria de ir para a guerra. Assim, decidiu que não seriam consentidos mais casamentos.
Os jovens acharam que essa era uma lei injusta e cruel. Por seu turno, o sacerdote Valentim, que discordava completamente da lei de Cláudio, decidiu realizar casamentos às escondidas.
A cerimónia era um acto perigoso, pois enquanto os noivos se casavam numa sala mal iluminada, tinham que ficar à escuta para tentar perceber se haveria soldados por perto.
Uma noite, durante um desses casamentos secretos, ouviram-se passos. O par que no momento estava a casar conseguiu escapar, mas o sacerdote Valentim foi capturado. Foi para a prisão à espera que chegasse o dia da sua execução.
Durante o seu cativeiro, jovens passavam pelas janelas da sua prisão e atiravam flores e mensagens onde diziam acreditar também no poder do amor.
Entre os jovens que o admiravam, encontrava-se a filha do seu carcereiro. O pai dela consentiu que ela o visitasse na sua cela e aí ficavam horas e horas a conversar.
No dia da sua execução, Valentim deixou uma mensagem à sua amiga (por quem dizem que se apaixonou), agradecendo a sua amizade e lealdade. Ao que parece, essa mensagem foi o início do costume de trocar mensagens de amor no dia de S. Valentim, celebrado no dia da sua morte, a 14 de Fevereiro do ano de 269."

(Retirado da net.)