29 abril 2006

O AMOR E O TEMPO


Há muito tempo, numa ilha muito pequena, confundida com o paraíso, habitavam vários sentimentos. Nessa ilha, viviam em harmonia o Amor, a Tristeza, a Sabedoria, a Vaidade, a Alegria, a Riqueza e todos os outros sentimentos. Um dia, num desses em que a natureza parece revoltar-se, o Amor acordou apavorado porque sentiu que a sua ilha estava a ser inundada. Mas esqueceu-se logo do medo que sentia e cuidou para que todos os sentimentos se salvassem. Todos correram, pegaram nos seus barcos e fugiram para um morro bem alto, de onde poderiam ver toda a ilha sendo inundada, mas sem que corressem perigo. Só o Amor não se apressou. O Amor nunca se apressa. Ele queria ficar mais um bocadinho na sua ilha. Mas, quando já estava quase a afogar-se, o Amor lembrou-se que não poderia morrer. Então correu em direcção aos barcos que partiam e gritou por socorro. A Riqueza, ouvindo o seu grito, tratou logo de responder que não iria levá-lo, pois com todo o ouro e prata que carregava temia que seu barco se afundasse. Passou então a Vaidade que também não poderia levá-lo, uma vez que ele, o Amor, estava bastante sujo ajudando os outros e ela, a Vaidade, não suportava sujidade. Logo atrás da Vaidade, vinha a Tristeza, que se sentia tão profunda que não queria a companhia de ninguém. Passou também a Alegria, mas esta, de tão alegre que estava, não ouviu o pranto do Amor. Sem esperanças, o Amor sentou-se na última pedra que ainda se via sobre a superfície da água e começou a minguar. O seu pranto foi tão triste que chamou a tenção de um velhinho que passava com o seu barco. O velhinho apanhou o Amor e levou-o para o morro alto, junto dos outros sentimentos. Depois de recuperar, o Amor perguntou à Sabedoria quem era o velhinho que o ajudara, quando esta lhe respondeu:
- "o Tempo"...
O Amor questionou:
- Porque é que o Tempo me conseguiu trazer para aqui?
A Sabedoria então respondeu-lhe:
- Porque só o Tempo tem a capacidade de ajudar o Amor a chegar aos lugares mais difíceis!

(Autor desconhecido)

Será?

25 abril 2006

Um poema que adoro...

NÃO TE AMO

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett, Folhas Caídas, 1853

23 abril 2006

Kalil Gibran

Descobri Kalil Gibran, recentemente, através de um amigo. O seu nome completo era Gibran Khalil Gibran, nasceu a 6 de Dezembro em Becharre, no Líbano, em 1883 e faleceu em Nova Iorque em 1931. Dedicou-se à pintura mas ficou conhecido como escritor. Em Boston, Gibran escreveu poemas e meditações para Al-Muhajer (O Emigrante), jornal árabe publicado naquela cidade. Com um estilo novo, cheio de música, imagens e símbolos, foi-lhe atraída a atenção do Mundo Árabe. Desenhava e pintava numa arte mística que lhe era própria.
Inicialmente Gibran escrevia em árabe, chegando a editar vários livros nessa língua. Mais tarde, deixou, pouco a pouco, de escrever em árabe e dedicou-se ao inglês, no qual produziu oito livros: 1918, O Louco; 1920, O Precursor; 1923, O Profeta; 1927, Areia e Espuma; 1928, Jesus, o Filho do Homem; 1931, Os Deuses da Terra.
Ficou conhecido como um louco, para uns, como um sábio, para outros, como um místico, para outros ainda... Talvez uma mistura de todos... Quanto a mim, deveria ser alguém com muita sabedoria e "muito à frente" para a época...
Já li "O Louco" e adorei! É um livro muito pequenino e lê-se muito rapidamente. Deixo aqui o primeiro texto do livro, que se chama, precisamente, "O louco"...

Sabem como fiquei louco?
Há muito tempo, muito antes de terem nascido os deuses, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas.
As sete máscaras que tinha fabricado meticulosamente tinham desaparecido.
Sem nenhuma máscara saí para a rua cheia de gente a gritar: Ladrões! Malditos ladrões!
Todos se riram de mim, mas alguns fugiram e fecharam-se em casa com medo.
Quando cheguei à praça principal uma criança que estava sobre o telhado de uma casa gritou: “Olhem é um louco!”
Voltei a cabeça para o ver e pela primeira vez o sol encontrou o meu rosto sem máscara.
O sol iluminou ao mesmo tempo o meu rosto e a minha alma.
A partir desse dia nunca mais usei máscara, e agora agradeço todos os dias ao ladrão que me a roubou.
Agora que já sabem como me tornei num louco, posso confessar-lhes que encontrei muita liberdade e segurança na minha loucura.
A liberdade da solidão e a segurança de nunca ser compreendido (aqueles que nos compreendem fazem de nós escravos).
No entanto sei que não posso orgulhar-me demasiado da minha segurança, pois nem o ladrão encarcerado está livre de encontrar outro ladrão.

20 abril 2006

Dia negro






Hoje o dia está negro... Estou naqeles dias que me apetece ouvir, ouvir e ouvir sempre a mesma música. A canção escolhida foi o "Cantar de Emigração", interpretado pelo grande Adriano Correia de OLiveira e musicado por José Niza. Esta música faz-me recordar uma época feliz da minha vida e também alguns amigos... A escuridão trouxe-me um espírito nostálgico, vou continuar a ouvir o "Cantar de Emigração"...


Aqui fica a letra que é lindíssima e também alguns dados sobre a sua autora...


Cantar de Emigração
-
Este parte, aquele parte
E todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
Que possam cortar teu pão
-
Tens em troca, órfãos e órfãs
Tens campos de solidão
Tens mães que não têm filhos
Filhos que não têm pais
-
Corações, que tens e sofres
Longas ausências mortais
Viúvas de vivos-mortos
Que ninguém consolará
-
Rosalía de Castro, escritora galega, nascida em Santiago de Compostela no ano de 1837. Descendente, por parte de sua mãe, de uma família da velha nobreza, o facto de ser filha ilegítima de um sacerdote marca-a profundamente desde muito jovem. Escreve em galego e em castelhano e acaba por se tornar um elemento preponderante do «Resurdimento Galego». Aos vinte anos publica La flor, seu primeiro livro de versos. Nos seus Cantares gallegos (1863), breves glosas de canções populares, manifesta a sua intensa nostalgia da terra galega. Em Follas novas (1880), obra de uma maior intensidade lírica, exprime a sua intimidade com mestria e simplicidade, abordando a natureza como puro símbolo da sua nostalgia desenganada. En las orillas del Sar (1885) acentua-se o seu pessimismo. Os temas predominantes nesta colectânea são a inelutável realidade da dor, a inexorável passagem do tempo e um obsessivo sentimento da morte. No conjunto, a sua obra gira em torno de três temas básicos: uma visão costumeira da Galiza rural, um conteúdo metafísico que a parece aproximar da filosofia existencial e a denúncia das assimetrias sociais da Galiza. Por outro lado, Rosalía é uma importante inovadora estilística, pois utiliza novos ritmos, mais flexíveis e harmoniosos do que os usuais na sua época.

19 abril 2006

A minha primeira corrente...


Este é o meu primeiro desafio nas andanças do mundo virtual...
Foi um desafio proposto pela AnaCristina e pela Maresia. Não tenho muita coisa a dizer neste assunto, uma vez que tenho controlado os meus medos e pânicos ao longo da vida :)
Que sortuda que eu sou eh eh...
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- Pânico ao pensar que poderei ficar sem os meus pais...
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-Pânico de salamandras... Nem posso imaginar aquelas criaturas horrendas...
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- Pânico de ser uma má profissional, de não dar o meu melhor no trabalho...
.
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Todos os "pânicos" que enumerei estão controlados, talvez seja mais o que me faz um pouco de confusão... Mas posso revelar dois pânicos que tive até à adolescência... Esses sim, foram verdadeiros pânicos, mas como tenho uma grande força e às vezes teimosa, já estão completamente controlados :) quando quero mesmo uma coisa tenho de conseguir e pronto!
Aqui vão os dois pânicos que me deram dor de cabeça durante anos:
.
- Pânico de ser raptada em casa (todas as noites sonhava que era raptada por ladrões que entravam em casa, até imaginava que estavam escondidos debaixo da cama...)
...
- Pânico de mascarados que tivessem a cara tapada... Era uma vergonha, não conseguia mesmo controlar o medo e se fossem aquelas máscaras horrendas tipo monstros, nem vos digo... Tive esta fobia até cerca dos 16 anos, mas controlei-a completamente... :)
.
Agora vou passar a corrente à FM e ao Maktub...

13 abril 2006

Páscoa feliz


Ultimamente tenho andado um bocadito afastada daqui do cantinho...
Vou continuar a gozar umas "fériazitas", mas... eu vou mas volto!
E para todos quero desejar uma Páscoa muito feliz...
Entretanto, aproveitem o fim de semana prolongado para passear, namorar,
estar com a família, descansar... ou simplesmente viver...

05 abril 2006

Cativar



«E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda não me cativaste.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incómodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um rapazinteiramente igual a cem mil outros rapazes. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...»

04 abril 2006

Felicidade...

Nem sei porquê mas hoje estou naqueles dias de felicidade que ninguém me atura...
:)
Bem... há que apoveitar estes momentos...

01 abril 2006

A lenda da Atlântida


Conta-se que houve em tempos um continente imenso no meio do oceano Atlântico chamado Atlântida. Era um lugar magnífico: tinha belíssimas paisagens, clima suave, grandes bosques, árvores gigantescas, planícies muito férteis, que às vezes até davam duas ou mais colheitas por ano, e animais mansos, cheios de saúde e força. Os seus habitantes eram os Atlantes, que tinham uma enorme civilização, mesmo quase perfeita e muito rica: os palácios e templos eram todos cobertos com ouro e outros metais preciosos como o marfim, a prata e o estanho. Havia jardins, ginásios, estádios... todos eles ricamente decorados, e ainda portos de grandes dimensões e muito concorridos.

As suas jóias eram feitas com um metal mais valioso que o ouro e que só eles conheciam - o oricalco.

Houve uma época em que o rei da Atlântida dominou várias ilhas em redor, uma boa parte da Europa e parte do Norte de África. Só não conquistou mais porque foi derrotado pelos gregos de Atenas.

Os deuses, vendo tanta riqueza e beleza, ficaram cheios de inveja e, por isso, desencadearam um terramoto tão violento que afundou o continente numa só noite. Mas parecia que esta terra era mesmo mágica, pois ela não se afundou por completo: os cumes das montanhas mais altas ficaram à tona da água formando nove ilhas, tão belas quanto a terra submersa - o arquipélago dos Açores.

Alguns Atlantes sobreviveram à catástrofe fugindo a tempo e foram para todas as direcções, deixando descendentes pelos quatro cantos do mundo. São todos muito belos e inteligentes e, embora ignorem a sua origem, sentem um desejo inexplicável de voltar à sua pátria.

Há quem diga que antes da Atlântida ir ao fundo, tinham descoberto o segredo da juventude eterna, mas depois do cataclismo, os que sobreviveram esqueceram-se ou não o sabiam, e esse conhecimento ficou lá bem no fundo do mar.

Retirado daqui.